“Nasceu com as cores definidas

Mulherada na ativa, muita força e poder!”

A presença da mulher no maracatu sempre foi essencial para sua existência e brilho na história da cultura popular brasileira. Porém, por muito tempo, suas funções eram mais concentradas nos bastidores das nações e nas alas de dança. De uns anos pra cá, isso tem mudado de forma significativa para a vida de muitas mulheres dentro do contexto do maracatu.    

Mestra Joana Cavalcante teve e tem uma atuação essencial ao incentivar mulheres a ecoarem seus tambores e cada vez mais ocuparem os cortejos de carnaval, seja na dança ou tocando qualquer instrumento. Em 2008, nas ruas do Recife Antigo, começou a promover encontros entre as mulheres e meninas da sua comunidade para tocar o maracatu, além de terem momentos de confraternização e lazer. Através desses encontros, o debate de que as mulheres sofrem com o machismo e com a violência doméstica dentro da comunidade passou a ser cada vez mais necessário.

Assim, com esse contexto e dando continuidade aos trabalhos sociais da Nação de Maracatu Encanto do Pina, Mestra Joana fundou o Grupo de Maracatu Baque Mulher. A partir daí, a única Mestra de Maracatu foi se tornando inspiração para outras mulheres que também buscavam se empoderar e superar a realidade de suas comunidades, em seus mais diversos contextos.

Na comunidade do Bode, em Recife-PE, o Baque Mulher começou a unir mulheres e meninas que, para além de aprender a tocar o maracatu, viram a importância de se refletir sobre todos os tipos de violência contra a mulher, sobre o racismo contra a mulher negra, a valorização das matriarcas nas tradições do maracatu, o poder feminino e o legado das mulheres mais velhas que também lutaram por seus direitos.

Em fevereiro de 2016 nascia mais uma grande ação: Mestra Joana e o Baque Mulher articularam o coletivo Feministas do Baque Virado, hoje chamado de Movimento de Empoderamento Feminino Baque Mulher, que tem por objetivo alinhar posicionamentos e fomentar a partir do maracatu de baque virado, projetos voltados para o empoderamento feminino. Assim, membras do Baque Mulher espalhadas pelo Brasil, e fora dele, se veem motivadas a realizar ações em suas próprias comunidades, suas cidades e suas áreas de atuação, sempre apoiadas nos fundamentos do Baque Mulher e sob orientações de Mestra Joana.

Desde então, mulheres de vários estados têm se identificado com a proposta, somando forças ao movimento que hoje conta com mais de 300 batuqueiras, sendo que a maioria se concentra em Recife, mas outras tantas se encontram difundidas por todo o Brasil e fora do mesmo. Por isso, acredita-se que cada vez mais o grupo Baque Mulher tem ampliado sua rede de intervenção, se tornando um movimento social de alcance nacional e que tem suas ações realizadas em cidades do norte ao sul do país.