Mas que som, batida e baque são esses?
Traduzir o maracatu de baque virado em palavras é um grande desafio. Afinal, convenhamos que o som é para ser sentido e não explicado. Porém, é muito importante reconhecer que essa linguagem é Patrimônio Cultural Imaterial do nosso país e merece o seu devido reconhecimento.
No sentido etimológico da palavra, ritmo vem do grego rhythmós e significa movimento regular, ou seja, o pulso constante, que, segundo Mestra Joana, se assemelha “a batida do coração” – um pulsar forte, ora lento, ora acelerado, e em alguns momentos, o “baque é virado”.
A característica que também nomeia o maracatu nação, é o momento que os integrantes do grupo executam o baque de forma diferenciada dos demais, quando alguns tambores “dobram” a base rítmica da percussão e fazem o que chamam de viração. Uns tambores seguram “o compasso da marcação”, enquanto outros, ao mesmo tempo, “viram” a batida percussiva. Tudo isso acontece numa harmonia singular e ao mesmo tempo plural, por isso, talvez, não consiga encontrar tradução, pois o maracatu não se explica.
Vale ressaltar que existem particularidades que também são canções entoadas em diversas manifestações da cultura popular. No maracatu, a toada (ou loa) corresponde a um canto alternado entre solista e coro, preservando características dos cantos e textos africanos.
No estado de Pernambuco o maracatu se apresenta de duas maneiras distintas: maracatu de baque solto ou maracatu rural e maracatu de baque virado ou maracatu nação, sendo o último a base do qual advém o toque da Nação Encanto do Pinas e do Movimento de Empoderamento Feminino Baque Mulher.
O maracatu nação, também conhecido como maracatu de baque virado, é uma manifestação artística da cultura popular e carnavalesca da Região Metropolitana do Recife em que um cortejo real desfila pelas ruas, acompanhado de um conjunto musical percussivo. Composto majoritariamente por negros e negras, os maracatus nação podem ser remontados às antigas coroações de reis e rainhas congo. Passaram por transformações e mudanças ao longo do século XX, demonstrando sua capacidade de adaptação e permanência. Trata-se, portanto, de uma forma de expressão da cultura negra, que tem sido considerada primordial na definição das identidades culturais pernambucanas, herança e resistência de negros e negras do passado.
Para Mestra Joana Cavalcante, “o maracatu é a própria religiosidade! O Maracatu, ele nasce através do Candomblé, ele nasce através dos terreiros”. Vem daí o motivo das sedes dos grupos de maracatu nação existirem nas proximidades ou dentro dos próprios terreiros Nagô de Recife/PE, o que faz da manifestação um lugar marcado pelo axé e resistências, fato constatado pela história brasileira de repressão às religiões de afro brasileira e afro indígenas. “Perseguições antigas e novas” que permanecem até hoje no estado, ou melhor seria dizer no país.